Nós vivemos em tempos incertos. As relações se tornam cada vez mais superficiais e as necessidades giram em torno uma sociedade que se apóia em uma estrutura de poder unidirecional que flui de cima pra baixo.
As disparidades socias são absurdas e o tecido que sustenta essa realidade é ameaçado pelo clássico mote divide et impera em que a massa é polarizada para atender os planos de desenvolvimento econômico de uma elite que concentra os recursos naturais em pouquíssimas mãos.
As organizações, que evoluíram da necessidade de colaboração do ser humano, viraram máquinas vorazes com crescimento ilimitado. A produção de alimentos foi centralizada em grandes produtores e o avanço da industrialização sem precedentes esvai os recursos que um dia foram tão abundantes no planeta.
Estes sintomas indicam que se nós continuarmos com essa abordagem que constrói muros e levanta guerras não vamos conseguir nos adaptar com a resiliência necessária para navegar o caos dos tempos que se aproximam.
Estes sãos indicadores de um sistema altamente complexo, incerto, ambíguo e volátil. É o mundo V.U.C.A em que vivemos. Uma grande MUVUCA!

Projetos Regenerativos e Evolutivos
A pergunta geradora aqui poderia ser “Como a humanidade poderia voltar a ser natureza?”
Como podemos desenvolver projetos que fortalecem o biorregionalismo, a resiliência social e são benéficos para a Terra?
Para resgatar o homem e a mulher natureza, há uma mudança drástica a ser feita na narrativa que o bixo homem construiu ao longo de sua jornada.
Há uma crise de percepção com o status quo que tem que ser questionada para que possamos semear culturas regenerativas.
Quando falamos de relações ganha ganha, buscamos direcionar o potencial criativo das nossas interações para um cenário em que todas as nossas ações prezam pelo crescimento pessoal, fortalecimento de comunidades e regeneração planetária.
As culturas ganha-ganha-ganha garantem que a vida possa continuar evoluindo no sentido de aumentar a diversidade, complexidade e resiliência de qualquer organismo vivo.
Há uma transformação cultural que já está a caminho. A humanidade está acordando para a complexidade dos desafios futuros. Um novo tipo de liderança individual e coletiva começa a emergir nos negócios, na sociedade civil e nos modelos de governança.
Depois de séculos vendo escassez e competição em todos os lugares, estamos acordando para a abundância que é revelada por meio da colaboração.
Os projetos vivem as perguntas
Daniel Wahl, autor do livro Designing Regenerative Cultures, provoca-nos com inúmeras perguntas que buscam justamente questionar esse paradigma de crescimento ilimitado.
Seguem aqui algumas das pérolas:
Que tipo de mundo queremos deixar para nossos filhos e os filhos deles?
Por que ainda estamos em guerra uns contra os outros e contra a natureza?
Por que permitimos que um sistema econômico que não serve mais para a sobrevivência a longo prazo de nossas espécies ou o bem-estar de nossas comunidades dite a maneira como fazemos negócios e nos relacionamos?
Por que deixamos nossos líderes políticos nos convencer de que é necessário gastar grandes proporções de nossos orçamentos nacionais em armas e preparação para a guerra, quando sabemos que esses fundos podem fornecer acesso a água, educação, comida e uma vida digna para toda a humanidade, desarmando assim os principais fatores de guerra e conflito?
Como podemos atender às necessidades básicas de todos, garantindo simultaneamente nosso futuro comum, protegendo a biodiversidade, estabilizando os padrões climáticos globais e criando prósperas culturas humanas que regeneram a bioprodutividade planetária?
Embora Designers Sociais não possam encontrar uma resposta, o olhar do designer é sempre direcionado por uma cultura ganha ganha ganha. O indivíduo ganha, o povo ganha e o planeta ganha.
O modelo Ganha Ganha nas relações humanas

Este é um modelo que expressa os diferentes tipos de relação para com o outro, com a comunidade e com o planeta.

Há um eixo vertical da Vontade pelo eixo horizontal da Consideração. A vontade aqui se refere à vontade de se relacionar com o outro. E a consideração se refere à consideração pelas minhas próprias necessidades e as necessidades do outro.
Você trabalharia com alguém que não quer brincar?
A cultura regenerativa do ganha ganha se manifesta quando nós estamos nos divertindo. Quando a coisa vira uma brincadeira!
Ao mesmo tempo podemos observar em cada quadrante o quanto as pessoas estão preocupadas com as suas próprias necessidades e com as necessidades alheias. é preciso ter coragem para estabelecer limites para as nossas necessidades e as dos outros. E sem consideração, nós podemos virar opressores.
Vamos explorar cada quadrante:
Ganha-Perde: Esse tipo de relação acontece quando há um alto nível de coragem e pouca consideração. São aqueles momentos em que a competição para ganhar não tem escrúpulos. As pessoas aqui sabem brincar mas não querem. Elas querem jogar o jogo sozinhas. Na perspectiva da CNV aqui a pessoa busca cuidar das suas necessidades sem se importar com as necessidades do outro.
Perde-Perde: Acontece quando há pouca coragem e pouca consideração. São aqueles momentos em que alguém se posiciona e diz “se eu não ganho ninguém ganha!”. Essa pessoa não sabe brincar e não vai mesmo! Na perspectiva da CNV a pessoa não cuida nem das suas necessidades e nem das necessidades do outro.
Perde-Ganha : Acontece quando há muita consideração e pouca coragem. São aqueles momentos em que as pessoas deixam as outras ganharem porque não se importam com o jogo. Elas até querem brincar, mas não sabem como. Na perspectiva da CNV a pessoa não cuida das suas necessidades mas cuida das necessidades do outro.
Ganha-Ganha: Acontece quando há muita consideração e muita coragem. São aqueles momentos em que as pessoas só querem jogar se todo mundo puder ganhar. Aqui a pessoa sabe brincar e vai brincar com todo mundo. Na perspectiva da CNV esta pessoa está cuidando das suas necessidades e das necessidades do outro.
É importante ressaltar que para falar de regeneração, precisamos falar de construção de comunidades. Para falar de construção de comunidades é preciso estimular o crescimento pessoal.
Nós acreditamos que o ingrediente mais imprescindível para a regeneração econômica e socioambiental começa com um simples ato: Brincar. A capacidade de estabelecer relações ganha ganha está diretamente ligada à nossa capacidade de estabelecer laços através de sinais de brincadeira.
Nós identificamos as pessoas que querem e não querem brincar conosco de forma inconsciente o tempo todo. Quando falamos da importância de brincar a palestra do Stuart Brown deixa bem claro como esses sinais de brincadeira podem influenciar nossas relações e até mesmo salvar as nossas vidas.
A regeneração social começa com um ambiente de trabalho lúdico onde as pessoas constróem relações de forma divertida e transparente.
E é através deste processo lúdico que também nos fazemos vulneráveis. Se fazer vulnerável é reconhecer que somos todos elementos de um todo que é maior que a soma individual das partes.
E é a partir da vulnerabilidade que o modelo da liderança colaborativa e regenerativa se assentam. Chega de líderes que inspiram medo. Precisamos de líderes que nos façam querer brincar e que reconhecem que sozinhos não vamos conseguir.
Nós ainda vamos explorar a importância da ludicidade nos processos colaborativos em outra secção. Por enquanto gostaria de deixar uma excelente palestra acerca da vulnerabilidade, que é o ingrediente essencial de qualquer relação que buscar extrapolar os limites da pseudo comunidade.